Saturday, July 23, 2011

Nem só palavras...


Sua pele se comprimia ante tanto vazio, enquanto os ossos desprotegidos e com frio doíam como se ensaiassem a explosão.
Pode ser que estivesse tantos anos enganado, e a espera despedia-se sempre com palavras de esquecimento. Era sua sentença vagar entre ventos de possibilidades e esbarrar nas que o quisesse encontrar. Já aceitava sem se importar.
Estava sempre sozinho, desejando que se tornasse a viagem mais longa só pra ouvir a música tocar "broken hearts become brand new".
Na distância se enchia do medo em estar perdido e não conseguir mais encontrá-la pra dizer ao menos que sentia muito. Ao longo do tempo, tornou-se amontoado de incertezas e frustrações deixadas quando os dias íam embora.
Já não sabia ao certo quantos lares tinha, ou se não havia mais nenhum... Acontecia de insistir na incógnita como antídoto, tornava a própria solidão sua fuga, e a tristeza, um vício.



Talvez não haja mais verão pra ninguém, as estações não mais se diferem como outrora, o abafamento também foi globalizado, o conhecer o mundo inteiro por tela e não ter rumo com sentido... 
Adorava andar na chuva quando triste, sentia lavar su' alma e não escutar perguntas do motivo do choro, embutido no rosto de passarinho molhado, igualzinho.
Nem sabia que devaneava coisas assim ou pensava e guardava pra si. Sempre a escrever melancolias, não costumava agradar, mas é o que saía de mais autêntico. Sugeriram usar pseudônimo, mas pra quê? 
Depois de tantos anos sem nome, então ficaria escolhendo um, ainda pra um uso  sem sentido digno. 
Ou seria esconder o que alguns pensassem existir e nem conheciam ou pra não estragar o nome e a história onde supostamente participasse apenas a desvio além dos limites até que a empurrassem de volta, fosse por química, grade, tranca ou chantagem? 
Se tivesse sangue sobrando, talvez não se machucasse tanto; se pouco a satisfizesse, talvez não enlouquecesse tanto; se outros escritos como o teu não a emocionasse, talvez não comentasse tão espontaneamente mal.
Entanto ainda mais escreveria outro tanto, mesmo que só para o ponto final.

Friday, November 26, 2010

Soneto à la Drummond

Friday, July 9, 2010

13/06/10 Hell of HEAL, first day



Muito frio, muita gente
Arrepio neste ambiente deprimente
Uma, ao menos, surpresa agradável
Na cama havia três versos ao lado

Enfermaria, economia, convênio
Seis camas e moças simpáticas
Os versos alentaram minha prática
Para sobreviver esse inferno e sem arsênico

Tocou meu coração;
'A estrela cadente
Me caiu ainda quente
Na palma da mão'

Tantos estímulos a se entregar
Ao ócio, excesso de remédios, retrocesso
Mais luta e energia exigem neste tranco
Pra driblar tamanho desgaste do processo

Assistir a pessoas tristes a lamentar
Ansiosas por sua história contar
Cada qual com seu drama singular
O que fazem? É fumar, fumar, fumar…

Há algo pior que esse contexto?
Reinando a neurastenia e o deteriorar
Ao exterior, nem existem e sentem dor
De verem o desperdício de suas vidas, sob cabresto

Thursday, May 20, 2010

Além da imaginação

Enquanto o papel sorria e a pena deslizava entre os dedos
Sacudi a poeira das lembranças mais recôndidas
Encontrei arrepios, sensações extravagantes e suaves
Juntei os pedaços espalhados, sem-sentido
Inventei outro planeta, loucamente impossível

Parada frente aos redemoinhos de ventos frios e cinzas
Cantei com os passarinhos, voei pela imensidão do céu
Peguei um giz de cera e logo colori minhas asas
Adornei com brilhantina e festejei dando gargalhadas

O dia durava meses de muita correria e aprendizagens
Então surgia a noite, que ficava cerca de algumas semanas
Sempre chovia quando a tristeza aparecia
Mas o alegre arco-íris renovava a alma e o ar
E tudo o mais era magia, fantasias reais a encantar

Monday, March 8, 2010

Ilhas


ilusão da infância, pensava falar
mas no espelho aprendia era calar
cultura do feio expor as emoções
mutilou meia vida, duros arpões

a nota da prova da vida foi
decepção, vergonha da identidade
dilacera a liberdade, corrói
compota de venenos por vaidade

onde estou? onde fui? abismo vil
lá onde carece a paz e o viver
com alegria, vôos altos e esparecer

não, é baixo, treva cega se viu
fantasia azul de lagos em luz
inexiste, sonho que a águia conduz 

Thursday, December 31, 2009

LUTO- funeral do ontem

Ao meu pesar ou alento desprezo, findo ao nascer da morte e sem convento.
Suplanto dor no que deixei e razão no meu deixar, fito afrente o futuro sem meu olhar se desviar. E foi longamente tarde e curto sua presença, nos momentos de prazer, tédio ou sofrimento. Lágrimas correm do meu rosto ao cortejo da noite, são 23h59 min e se foram todos.
Um minuto de silêncio transcorreu em sua entrada, vozes ascenderam do nada em torno dessa jornada, os segundos se passaram e logo tudo mudou, vi todos se abraçando e depois você falou:

Feliz ano-novo!!!