Sunday, February 22, 2009

Eu estive em todos os lugares, e só me encontrei em mim mesmo

Vale ser lido um texto de John Lennon, que descreve em poucas palavras o que passamos a vida inteira tentando entender- o coração.


'Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos.

Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade.

Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação.
Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.
Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente.

Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém'.

Friday, February 20, 2009

Terminal das Confissões

De tanto amar e sofrer em um grito de liberdade, das esperanças perdidas sobrou à saudade, que infindável pensamento em vastidão de outrora, vim caindo por caminhos que não tem resposta.

Há variadas formas de interpretar um sentimento, porém acredito que ao sentir, suas variações se modificam a cada pessoa. Acredito que um amor, seja ele qual for, jamais acaba, nem é substituído, apenas guardamos ele noutro local de nosso coração, ou seja, os sentimentos se amenizam dependendo da pessoa escolhida e da situação ocorrida.
Comigo acontece o seguinte, não sei dizer ao certo os motivos e nem como me tornei assim, sou da chamada Lost Age, ou Lost Elite.

Essa ‘Era perdida’ se decorreu no século 19, o tal movimento do romantismo que tanto me identifico, especificamente da segunda geração, ultra-romântica.

Pois bem, nasci 1 século após, e fui criado de modo um tanto peculiar, com um ensino de zelar pelos demais que se ama, e portando, ser sincero em relação aos meus sentimentos por outrem.
Fui impregnado por essa criação e por leituras do gênero, daí o estilo romântico marcando em minha face, e das futuras decepções amorosas.

Em outras oportunidades destacarei o que houve de fato em minha curta trajetória ultra-romântica, mas resumindo, deixo as seguintes indagações, o quanto vale a pena se dedicar de corpo e alma por um amor, o quanto vale a pena ser sincero com seus sentimentos, vivendo exclusivamente para em nenhum caso deixar a pessoa infeliz ou causar magoas que deixem marcas???

Será que, viver é sofrer pelo prazer de ser feliz?

Dito isso, registro na presente data de hoje, que levarei uma vida sem necessidades de corresponder ou preencher lacunas, tornando-me assexuado por um período indeterminado, até que me provem o contrário sobre até quanto podemos caminhar rumo a felicidade de quem se ama?

Sunday, February 15, 2009

Teorema

Pensei muito tempo em dizer a você/se não fosse assim não haveria por que
Fui jogado ao tempo e mantive a saudade/ ficando satisfeito por um simples abraço.

De um silêncio falado entre muitas beiradas, castigado por um crime em sonhar madrugadas, de suspirar o amanhã noutra vida e viver, diante de um mistério em morrer sem te ter.

Não entendo o capricho feito por teu coração/ de ignorar meu carinho em troca de solidão/ talvez o acaso te faça melhor/ seguindo teu caminho e me deixando só.

Saturday, February 14, 2009

Ao som de um violino por Gustavo Samuel

Charles tira o paletó e a gravata. Seus olhos estão completamente secos. O pai o observa meio preocupado. Dá um tapinha nas costas do filho e diz:
- Chora um pouco, rapaz.
Ele tira o paletó também e pega uma garrafa de whisky e enche o copo. Bebe tudo quase de uma vez e estende o copo vazio para o filho:
- Quer beber um pouco? Vai te fazer bem.
Sem responder, ele vai para o quarto. Lá, encontra várias fotos dele com uma jovem sorridente, que parecia ter a mesma idade dele, vinte anos, sempre abraçados e sorrindo. Ele olha a escrivaninha e vê um presente com um cartão escrito “Feliz Aniversário”.
- Hum.
Sem nenhuma expressão no rosto, sem demonstrar dor ou angústia, Charles pega as fotos uma a uma e as joga na lixeira. Por último, pega o presente e o joga no lixo também.
Em um canto do quarto estava o violino. Ele o segura e ensaia algumas notas. Enquanto uma música se formava, as lembranças iam se materializando em sua mente. A mesma garota da foto batendo palmas depois que ele finalizara um trecho de uma sonata de Beethoven.
- Acompanhado do piano fica melhor.
- Você é incrível, carinho.
Ela beija o rosto dele e lhe entrega o presente de aniversário:
- Vou ter que viajar amanhã, tenho um show marcado. Mas só pode abri no dia, hein?
Um jornal com uma pequena reportagem na quinta página “Morre em acidente de carro uma cantora local”.
Concertos. Casas sempre lotadas. Músicas tristes que arrebatavam corações. Mário, o pai de Charles, se assustara com a meteórica ascensão da carreira do filho. Desde que Clara falecera, ele nunca mais falara uma só palavra. Sua música, no entanto, ficara genial, cheia de paixão segundo os críticos de arte.
- E de dor também, não é?
As noites de Charles dificilmente eram acompanhadas pelo sono. Geralmente, ele ficava no teatro tocando por horas seu violino. Só mesmo quando o corpo exigia, ele dormia um pouco.
- Fica comigo essa noite, e não te arrependerás, lá fora o frio é um açoite, calor aqui tu terás. Hum? Ah, você ainda está aí?
Karina para de esfregar o chão e abre um sorriso para Charles. Ela deixa o esfregão encostado na parede e vai até ele:
- Você realmente gosta disso, hein? Sou nova aqui. Me chamo Karina.
Ela estende a mão para ele. Ele a olha sem expressão alguma e não se move. Ela ainda mantém a mão estendida por um tempo e depois coça a nuca com a mesma mão sorrindo:
- Bem, nós vamos passar muitas noites juntas por aqui. Aos poucos nos tornaremos amigos. Confie em mim.
Outro dia. Outro concerto. Mais música. Mais esfregão:
- Tudo bem contigo?
Charles faz um leve aceno com a cabeça e volta sua atenção para o violino. Karina levanta uma das sobrancelhas e sorri satisfeita:
- É isso aí. Papo àbeça, mano.
Noites e mais noites se passam. Charles continua sem falar, mas suas expressões já não são tão frias. O pai nota que um leve sorriso sempre estava em seu rosto agora.
Karina ouve um som diferente vindo do violino. Nunca tinha escutado aquela música antes. Ela fecha os olhos e se deixa envolver pela melodia. Quando Charles termina, ela bate palmas eufórica:
-Linda, cara. De quem é?
Charles abre um sorriso largo e aponta para si mesmo. Karina arregala os olhos e volta a bater palmas efusivamente.
- Sua? Você é fantástico, fantástico, cara. Meus parabéns. E tem nome isso aí? Sonata 00000001 de Charles Batista?
Ele solta uma gargalhada e balança a cabeça negativamente. Seu rosto fica um pouco vermelho, esfrega a nuca com a mão e diz um pouco sem jeito:
- “Karina”.
Ela fica vermelha também. Respira fundo e limpa uma lágrima que escapulira do seu olho. Ela aproxima seu rosto do dele e os dois se beijam.
- Pensei que você fosse mudo.
Ele faz um sinal de “mais ou menos” com a mão.
- Eu ouvi sobre o que aconteceu contigo.
Charles desvia o olhar, mas Karina faz com que ele a encare de frente:
- Olha aqui pra mim. Tem alguma coisa que você quer dizer ou fazer? Algo que quer soltar há muito tempo?
Ela o abraça, ele fecha os olhos e finalmente as lágrimas caem. Soluços. Karina o aperta com mais força. Os dois se beijam novamente.
- Que maravilha! Visitas.
Charles aponta o próprio quarto e desaparece do campo de visão de Karina e do pai. Karina lança um sorriso para Mário e comenta brincando:
- Bonito, artista e caladão. Um sonho. Um sonho!
Com o violino na mão, Charles reaparece e aponta a porta, avistando que já estava de saída.
- Temos que fazer uma coisa importante, Seu Mário. Até mais.
Os dois colocam dois buquês de rosas brancas no túmulo de Clara. Charles pega o violino e faz alguns ajustes na afinação. Antes de tocar qualquer coisa, no entanto, ele pergunta para Karina:
- Tudo bem para você?
- Claro. Eu adorei a idéia. E a música tá linda. Toca.
Ele fecha os olhos e murmura baixinho:
- Fiz duas músicas com os nomes das mulheres que vivem no meu coração. A primeira é “Karina”, em homenagem a essa garota do meu lado. A segunda é para você, “Clara”.
Ele executa a melodia com máxima maestria. Quando termina, um vento forte começa a soprar. Karina pensa ouvir alguém batendo palmas. Olha de um lado para o outro e não vê ninguém. Ela ri de si mesma e bacana a cabeça:
- Bobagem.