Thursday, December 31, 2009

LUTO- funeral do ontem

Ao meu pesar ou alento desprezo, findo ao nascer da morte e sem convento.
Suplanto dor no que deixei e razão no meu deixar, fito afrente o futuro sem meu olhar se desviar. E foi longamente tarde e curto sua presença, nos momentos de prazer, tédio ou sofrimento. Lágrimas correm do meu rosto ao cortejo da noite, são 23h59 min e se foram todos.
Um minuto de silêncio transcorreu em sua entrada, vozes ascenderam do nada em torno dessa jornada, os segundos se passaram e logo tudo mudou, vi todos se abraçando e depois você falou:

Feliz ano-novo!!!

Saturday, November 7, 2009

Misantropia

Não posso ignorar a verdade.
Não posso alcançar o alto brilho que seu olhar decorre diante do meu, nem ao menos respirar delicadamente e inclinar minha cabeça pra trás, não sentir nada e nem fingir entender, não cuspir porcarias e nem me submeter ao vácuo de mim mesmo.
Tentei por diversas vezes justificar minha falta de atenção, quase não tão solitária, nem que isso contorne ao futuro sem rumo, sem esperança e tendo a certeza de sempre dizer: adeus!

Minha auto indulgência se revela constante em minhas 'obrigações', e para muitos há um sacrifio, há uma ponte que separa por completo o mecanismo sentimental do conservativo, do puramente pragmático em não saber me infiltrar em seu mundo, tão longe...
Essa minha 'reserva', minha desapropriação de mim mesmo se realiza ao todo, e se completa em não satisfazer o próximo, talvez egoístico de minha parte, talvez sombrio de outra, mas é minha maneira de viver.
Há alicerces que suportam muito mais temores na vida, e acredito que o meu esteja já suficientemente forte em seguir em frente, mesmo sabendo que estará prestes a cair sem você.

Thursday, October 15, 2009

Hospital Psiquiátrico

Alguém disse um dia que o projeto é o rascunho de nossa vida.
Por isso minha vida é um rascunho constante...

Moradia transitória
Dos internos, obrigatória!
Institucionaliza com pungência
O controle medical - diz-se o Tal

Luta hodierno pela escuta ao interno
E a mediação de um acompanhante
Que o ajude a se adaptar à sociedade.

Afinal, o bom senso crê
Que qualquer coisa é melhor
A possuir como endereço
Domiciliar a rua do hospital:
*Alienação esclarecida

*parodiando o Despotismo Esclarecido
→ discurso externo: proteção do doente
→ discurso interno: controlar o preterido

Sunday, August 30, 2009

Análise Institucional - estudo I


O Institucionalismo não é uma ciência, uma disciplina ou uma tecnologia, pois é um processo permanentemente em construção, autocrítica e reformulação versáteis dependentes do devir e não um saber instituído, cristalizado, estático como uma teoria científica, por exemplo.

Ao decorrer da história, o saber e o saber-fazer produzidos pelos povos primitivos e leigos foram desqualificados, mistificados pelo poder das elites, gradualmente até chegar ao excesso atual, persuadindo a comunidade de que só o saber científico, acadêmico, que dá status funciona e de que se precisa depender deles para tudo a fim de manter o coletivo alienado e mais facilmente manipulável.

A divisão social e técnica do trabalho e do saber consiste em separar e colocar escalas de valores entre tarefas corporais e intelectuais, tarefas do campo e da cidade, tarefas masculinas e femininas, etc. e consequente subordinação de uns a outros e frequentes abusos conforme a valoraçãodominante estipulada, detentora dos recursos, o que gera constantes conflitos e fez surgir a necessidade e utilidade do movimento instituinte. Este aparece através das atividades críticas, inventivas e transformadoras, parte do devir das potências e materialidades sociais para a otimização das organizações.

Os propósitos da Análise Institucional apóiam-se fundamentalmente nos processos de autogestão e auto-análise, o fazer consciente dentro do possível a cada ato do cotidiano e a busca constante dessa consciência com o objetivo de se ser produtivo e "vacinado" contra os abusos de poder, alienação, manipulação.

Embora aparentemente simples, o grau de sua complexidade é proporcional à sua flexibilidade e expectativa de possibilidades e limitações imprevisíveis inéditas, ousando arriscar na aposta da invenção de soluções a qualquer tempo e lugar. Não há relação alguma com anarquia de técnicas, mais ao contrário, demanda um senso de curiosidade e estudo amplo e constante do máximo de técnicas e teorias possíveis para que haja uma preparação satisfatória pra tal arriscado campo prático.


(continua...)
~

Sunday, July 19, 2009

las cuatro tesis del esquizoanálisis



Tal como lo formulan Deleuze y Guattari en 1972:


1) Toda catexis es social y de cualquier modo re-conduce a un campo social-histórico.

2) Las catexis sociales se distinguen en catexis libidinal inconsciente de grupo o de deseo y las catexis preconscientes de clase o interés.

3) Tanto de hecho como de derecho hay una primacía absoluta de las catexis libidinales del campo social sobre las catexis familiares.

4) La catexis libidinal social se distingue en dos polos: el polo paranoico, reaccionario y fascista y el polo esquizoide revolucionario.


Estas cuatro tesis recuerdan que hemos olvidado lo esencial:

" la sociedad es esquizofrenizante a nivel de su infraestructura, de su modo de producción de sus circuitos económicos capitalistas más precisos y que la libido carga este campo social, no bajo una forma en la que éste estaría expresado y traducido por una familia-microcosmos, sino bajo la forma en la que hace pasar la familia sus cortes y sus flujos no familiares, cargados como tales; luego, que las catexis familiares siempre son un resultado de las catexis libidinales social-deseantes, únicas primarias; por último, que la alienación mental remite directamente a estas catexis y no es menos social que la alienación social, que remite por su cuenta a las catexis preconscientes de interés."



Sunday, June 28, 2009

esquizoanálise x psicanálise a partir de Mil Platôs(impressões)


A obra Mil Platôs "O Anti-Édipo tinha uma ambição kantiana: era preciso tentar uma espécie de crítica da razão pura no nível do inconsciente." (DELEUZE e GUATARRI, 2004:

temas fundamentais:

1- Substituição da idéia do inconsciente enquanto teatro pela idéia de inconsciente como usina (questão de produção de inconsciente e não de representação de conteúdos do inconsciente).
2- O delírio é histórico-mundial, não familiar: deliram-se raças, tribos, culturas, organizações, posições sociais, etc.
3- Existe uma história universal, que não é a da necessidade, e sim da contingência (DELEUZE e GUATARRI, 2004

"O projeto é construtivista" (DELEUZE e GUATARRI, 2004: 08)

Maio de 68

"Sonhávamos em acabar com Édipo" (DELEUZE e GUATARRI, 2004: 07)

constituir um pensamento que se efetue através do "múltiplo" - e não a partir de uma lógica binária, dualista, do tipo "um-dois", "sujeito-objeto", que se efetue por dicotomia, tal como vemos na psicanálise, na lingüística e na informática -, de modo a construir uma teoria das multiplicidades que fosse imanente, que colocasse propostas concretas de pensamento ao invés de simplesmente se limitar à crítica da psicanálise.

izoma→ pensar as multiplicidades por elas mesmas, visto que o fundamento do rizoma é a própria multiplicidade. Vejamos a definição dada pela botânica:

"Em botânica, chama-se rizoma a um tipo de caule que algumas plantas verdes possuem, que cresce horizontalmente, muitas vezes subterrâneo, mas podendo também ter porções aéreas. O caule do lírio e da bananeira são totalmente subterrâneos, mas certos fetos desenvolvem rizomas parcialmente aéreos. Certos rizomas, como em várias de capim (gramíneas), servem como órgãos de reprodução vegetativa ou assexuada, desenvolvendo raízes e caules aéreos nos seus nós. Noutros casos, o rizoma pode servir como órgão de reserva de energia, na forma de , tornando-se tuberoso, mas com uma estrutura diferente de um tubérculo ."

Para D&G, este tipo de caule em conjunto com a terra, o ar, animais, a idéia humana de solo, a árvore, e etc formariam o rizoma, não se limitando apenas à pura materialidade, mas também à imaterialidade de uma máquina abstrata que o arrasta, sendo, portanto, um conceito ao mesmo tempo ontológico e pragmático de análise.

Rizoma
"Um platô está sempre no meio, nem início nem fim. Um rizoma é feito de platôs." (DELEUZE e GUATARRI, 2004:

Um rizoma é uma segunda espécie de conjunto de linhas. Um primeiro conjunto de linhas é aquele no qual uma linha é subordinada ao ponto, à verticalidade e horizontalidade, que estria o espaço, faz um contorno, submete multiplicidades variáveis ao Uno, ao Todo de uma dimensão suplementar ou suplementária. As linhas deste tipo são as linhas molares, e formam sistemas binários, arborescentes, circulares e segmentários .

Um rizoma é totalmente diferente deste primeiro tipo de linhas, o rizoma não é exato, mas um conjunto de elementos vagos, nômades, de maltas e não de classes: "Do ponto de vista do pathos, é a psicose e sobretudo a esquizofrenia que exprimem estas multiplicidades." (DELEUZE e GUATARRI, 1997: 221)

"não há universalidade da linguagem, mas sim um concurso de dialetos, de patoás, de gírias, de línguas especiais. (...) A língua é, segundo uma fórmula de Weinreich, "uma realidade essencialmente heterogênea". Portanto, é impossível pensar em "uma língua-mãe", mas somente em uma "tomada de poder por uma língua dominante dentro de uma multiplicidade política" (DELEUZE e GUATARRI, 2004: 16).

"A árvore lingüística à maneira de Chomsky começa ainda num ponto S e procede por dicotomia" (DELEUZE e GUATARRI, 2004: 15), sendo assim "um marcador de poder antes de ser marcador sintático". (DELEUZE e GUATARRI, 2004: 15) Tais modelos não dão conta nem da abstração nem da materialidade da língua,

"por não atingir a máquina abstrata que opera a conexão de uma língua com os conteúdos semânticos e pragmáticos de enunciados, com agenciamentos coletivos de enunciação, com todo uma micropolítica do campo social." (DELEUZE e GUATARRI, 2004: 15)

Tuesday, June 9, 2009

O incessar


Eu ia pela estrada do acaso

Quando apareceu o carro vermelho

Com as vidraças foscas, jogando água

Nas pessoas da calçada enlameada


Seu jeito tão grosseiro e mal-educado

Cantando pneu e acelerando o máximo

Lá ia o carro, sádico janota

Pequena cena, infantil agir


Atormenta meu pensamento vago

Silenciando o fogo do acaso

Inicia a orgia desenfreada


Selvagens jovens ébrios e mimados

Desfazem a arte do ser e estar

Acaba o gargalhar ao vomitar



Tuesday, May 12, 2009

Desditas



Lágrima interna polui a circulação sanguínea, entope os poros, corrói a carne. Expressa a angústia de nem se conseguir libertar pelos olhos, perdida num meio ardido, putrefato vivo. Atinge os neurônios, contamina o humor, acarreta comportamento sofredor. E no auge do entorpecimento, ajunta-se com pedaços de alimentos ruminados e explode num forte fluxo seguindo a trilha da garganta e expulsando ar, dor, líquor pela podre boca desmielinizada.

Estreitíssimo caminho o da felicidade perene. Difícil até de enxergá-lo e distingui-lo de início. Grande tristeza é saber que a Felicidade está logo ali, logo aonde não se alcança mais, mas se observa-a distanciando, sem o menor remorso. Limitado é o espírito, e tão desconhecida quanto facilmente ativada sua capacidade de demolição. Como se o eixo da razão fosse uma finíssima linha para se equilibrar sobre, e qualquer movimento em falso, cai-se no obscuro plano quadridimensional da desrazão cruel e infeliz.

Desventura insólita acomete sem predição, suprimindo qualquer pretensa esperança de ajuda. Todos os pontos de apoio dissolvem-se como gelatina na água, nem uma fina ponta a se agarrar no desespero por respirar.

Ainda diz-se justa tal vida terrena, atos e reações. Só se for fora do alcance da vista, do olfato, do tato.
Só vê-se sangue, miséria, fome, desemprego, drogas e droga de dor. Se o colchão pudesse ser confortável o suficiente para que nada o atingisse...

Cérebro aminhocado, feio e desmiolado. Puxa o nervo que enraivece e o tortura até a morte, despedaça-o e joga-o no abismo negro interminável. Acaba energia com o mundo e destrói todas as pessoas, sem dó ou compaixão, sem esquecer que nem merecem caixão. Que seus corpos apodreçam nos bicos dos urubus e não os causem muita indigestão.

Pessoa única deve morrer por provocar perda de alma em alguém que tem o direito de respirar e expressar-se. Pensamento, vontade, imaginação mataram pessoa responsável por contaminação de angústia em quem experimentou seu fruto. Pessoa carregada e maliciosa morreu ao enfrentar perigo conseqüente de suas brincadeiras de humor negro sobre inocentes vulneráveis

Amizade não existe, é manipulação de algum interesse revestido de ideais irreais. Aprender essência de viver implica decair do sonho bonito ao concreto feio e assumir castigos injustos inúteis para satisfação supérflua de criadores perversos marajás. Escolha do irracional mostra-se racional ante a lógica da sociedade e seus efeitos comportamentais na Alta modernidade.

Vozes ensurdecedoras, vozes ameaçadoras, risos escarninhos, pânico absurdo. Sensação de despedaçamento adicionada de raiva cancerígena de gozações mil e medo dos atos imprevisíveis de infinitos eus momentâneos de cada espaço universal que ocupa o ser em seu estado mais sensível, indômito, inapreensível. Vida leva como pode e que tem e consegue só não queria que fosse tão pesado, não talvez pensado devido ao ato falho e incômodo.

Wednesday, April 8, 2009

Anônima Mente





A mente divaga sem conseguir prender muita atenção `a realidade formal, colorida e concreta. Diversos pensamentos vêm e vão, amontoados, enodados, atropelados por milhares de outros nesta dimensão sem leis nem coerência - a consciência, no entanto não muito ciente nem consciente, pois quão frequente é encontrar bagagens trafegando que até então eram completamente desconhecidas e surge a pergunta de como estavam ali se não foram reconhecidas. Ou melhor, como surgiram, de onde e como chegaram ali. O tipo de pensamento que só uma mente insana e despregada e desinteressada das vivências objetivas um mínimo que seja poderia chegar à pueril 'falta do que fazer' para o criar. Amedronta a possibilidade desse desinteresse crescer a ponto de se passar ao inferno psicótico com as montanhosas tempestades de oscilação de humor, pensamento, sentimento até sucumbir no comportamento.


"O horror é o súbito distanciamento e retração do mundo sensível, sem deixar nada. Só trapos."
(Sylvia Plath)

Thursday, March 19, 2009

O Avião/ O Vermelho/ O Horizonte

Dia radiante. Agora o sol se põe, avermelhado, no cerrado. Um disco rubro, pegando fogo, e queimando os buritis, os ipês – tão floridos no inverno seco! – e a grama.

Ah, quanta palha pelo chão! Mas isso há de passar, simplesmente porque o tempo passa e os ciclos se sucedem.
O grande astro desaparece no horizonte.
Sempre ouvi falar que depois do horizonte reside a esperança. Mas acho que no horizonte do cerrado está aquilo que persegui por anos: o Futuro.
Viver o presente. Esse é o lema de hoje: a telinha diz “Hoje!”, a telona diz: “Hoje!”, as letrinhas em papel de embrulhar carne dizem “Hoje!”, os grandes cartazes que induzem os incautos ao uso (desmedido? não, claro que não, no Hoje tudo é relativo) do tão rico meio de troca dizem: “Hoje!”. Aliás, nunca o Hoje foi tão metalingüístico.
Porque no nosso hoje se vive o Hoje. O Futuro, aquele tão épico e esperado, não se busca mais, não se procura mais, coitado. Essa é a verdade.
O Futuro é discriminado.
E cá venho eu, em busca desse ser abstrato flagelado por preconceitos.
Venho eu espreitar entre o dançar sibilante das curvas brancas e sensuais, na dureza desconcertante e fulgurante do concreto armado, nas duas alvas metades da laranja, no grande meteoro pousado na água (rara!) emoldurado pelos arcos da vitória, uma espécie de salvação para o corpo e para o espírito. Uma salvação que não salve somente a minha alma, mas que faça decolar o avião. O avião que vai rumo ao horizonte da grande terra da madeira vermelha.
Olha aí, ele de novo, o horizonte.
O Hoje me atrai. Defeito? Não, sou produto dele. Não vou ser hipócrita. Não mesmo. Mas o Futuro virá inexorável.
E quero que o meu Hoje prepare os Hojes do Futuro. É, então, é o barro vermelho em que piso todos os dias, as torres apontadas para o celeste que brotam dele a cada dia, o lago que represa as minhas velhas angústias e não permite que me invadam de novo. 209 motivos, 714 razões para eu encontrar aí o meu Norte (ou será o meu Sul? Ou talvez o meu Sudoeste? Non non, beaucoup trop nouveau-riche pour moi !)
Por isso o busco, incansavelmente, a esse Futuro. Por isso o busquei por toda a vida. Sim, encontrei-o aqui.
O avião vermelho é meu futuro. E o meteoro que nele caiu, foi o que nele me salvou. Nele encontrei meu horizonte.

Ele, mais uma vez.

Sunday, February 22, 2009

Eu estive em todos os lugares, e só me encontrei em mim mesmo

Vale ser lido um texto de John Lennon, que descreve em poucas palavras o que passamos a vida inteira tentando entender- o coração.


'Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos.

Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada. Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade.

Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável. Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação.
Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável. Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.
Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.

Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas. Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente.

Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém'.

Friday, February 20, 2009

Terminal das Confissões

De tanto amar e sofrer em um grito de liberdade, das esperanças perdidas sobrou à saudade, que infindável pensamento em vastidão de outrora, vim caindo por caminhos que não tem resposta.

Há variadas formas de interpretar um sentimento, porém acredito que ao sentir, suas variações se modificam a cada pessoa. Acredito que um amor, seja ele qual for, jamais acaba, nem é substituído, apenas guardamos ele noutro local de nosso coração, ou seja, os sentimentos se amenizam dependendo da pessoa escolhida e da situação ocorrida.
Comigo acontece o seguinte, não sei dizer ao certo os motivos e nem como me tornei assim, sou da chamada Lost Age, ou Lost Elite.

Essa ‘Era perdida’ se decorreu no século 19, o tal movimento do romantismo que tanto me identifico, especificamente da segunda geração, ultra-romântica.

Pois bem, nasci 1 século após, e fui criado de modo um tanto peculiar, com um ensino de zelar pelos demais que se ama, e portando, ser sincero em relação aos meus sentimentos por outrem.
Fui impregnado por essa criação e por leituras do gênero, daí o estilo romântico marcando em minha face, e das futuras decepções amorosas.

Em outras oportunidades destacarei o que houve de fato em minha curta trajetória ultra-romântica, mas resumindo, deixo as seguintes indagações, o quanto vale a pena se dedicar de corpo e alma por um amor, o quanto vale a pena ser sincero com seus sentimentos, vivendo exclusivamente para em nenhum caso deixar a pessoa infeliz ou causar magoas que deixem marcas???

Será que, viver é sofrer pelo prazer de ser feliz?

Dito isso, registro na presente data de hoje, que levarei uma vida sem necessidades de corresponder ou preencher lacunas, tornando-me assexuado por um período indeterminado, até que me provem o contrário sobre até quanto podemos caminhar rumo a felicidade de quem se ama?

Sunday, February 15, 2009

Teorema

Pensei muito tempo em dizer a você/se não fosse assim não haveria por que
Fui jogado ao tempo e mantive a saudade/ ficando satisfeito por um simples abraço.

De um silêncio falado entre muitas beiradas, castigado por um crime em sonhar madrugadas, de suspirar o amanhã noutra vida e viver, diante de um mistério em morrer sem te ter.

Não entendo o capricho feito por teu coração/ de ignorar meu carinho em troca de solidão/ talvez o acaso te faça melhor/ seguindo teu caminho e me deixando só.

Saturday, February 14, 2009

Ao som de um violino por Gustavo Samuel

Charles tira o paletó e a gravata. Seus olhos estão completamente secos. O pai o observa meio preocupado. Dá um tapinha nas costas do filho e diz:
- Chora um pouco, rapaz.
Ele tira o paletó também e pega uma garrafa de whisky e enche o copo. Bebe tudo quase de uma vez e estende o copo vazio para o filho:
- Quer beber um pouco? Vai te fazer bem.
Sem responder, ele vai para o quarto. Lá, encontra várias fotos dele com uma jovem sorridente, que parecia ter a mesma idade dele, vinte anos, sempre abraçados e sorrindo. Ele olha a escrivaninha e vê um presente com um cartão escrito “Feliz Aniversário”.
- Hum.
Sem nenhuma expressão no rosto, sem demonstrar dor ou angústia, Charles pega as fotos uma a uma e as joga na lixeira. Por último, pega o presente e o joga no lixo também.
Em um canto do quarto estava o violino. Ele o segura e ensaia algumas notas. Enquanto uma música se formava, as lembranças iam se materializando em sua mente. A mesma garota da foto batendo palmas depois que ele finalizara um trecho de uma sonata de Beethoven.
- Acompanhado do piano fica melhor.
- Você é incrível, carinho.
Ela beija o rosto dele e lhe entrega o presente de aniversário:
- Vou ter que viajar amanhã, tenho um show marcado. Mas só pode abri no dia, hein?
Um jornal com uma pequena reportagem na quinta página “Morre em acidente de carro uma cantora local”.
Concertos. Casas sempre lotadas. Músicas tristes que arrebatavam corações. Mário, o pai de Charles, se assustara com a meteórica ascensão da carreira do filho. Desde que Clara falecera, ele nunca mais falara uma só palavra. Sua música, no entanto, ficara genial, cheia de paixão segundo os críticos de arte.
- E de dor também, não é?
As noites de Charles dificilmente eram acompanhadas pelo sono. Geralmente, ele ficava no teatro tocando por horas seu violino. Só mesmo quando o corpo exigia, ele dormia um pouco.
- Fica comigo essa noite, e não te arrependerás, lá fora o frio é um açoite, calor aqui tu terás. Hum? Ah, você ainda está aí?
Karina para de esfregar o chão e abre um sorriso para Charles. Ela deixa o esfregão encostado na parede e vai até ele:
- Você realmente gosta disso, hein? Sou nova aqui. Me chamo Karina.
Ela estende a mão para ele. Ele a olha sem expressão alguma e não se move. Ela ainda mantém a mão estendida por um tempo e depois coça a nuca com a mesma mão sorrindo:
- Bem, nós vamos passar muitas noites juntas por aqui. Aos poucos nos tornaremos amigos. Confie em mim.
Outro dia. Outro concerto. Mais música. Mais esfregão:
- Tudo bem contigo?
Charles faz um leve aceno com a cabeça e volta sua atenção para o violino. Karina levanta uma das sobrancelhas e sorri satisfeita:
- É isso aí. Papo àbeça, mano.
Noites e mais noites se passam. Charles continua sem falar, mas suas expressões já não são tão frias. O pai nota que um leve sorriso sempre estava em seu rosto agora.
Karina ouve um som diferente vindo do violino. Nunca tinha escutado aquela música antes. Ela fecha os olhos e se deixa envolver pela melodia. Quando Charles termina, ela bate palmas eufórica:
-Linda, cara. De quem é?
Charles abre um sorriso largo e aponta para si mesmo. Karina arregala os olhos e volta a bater palmas efusivamente.
- Sua? Você é fantástico, fantástico, cara. Meus parabéns. E tem nome isso aí? Sonata 00000001 de Charles Batista?
Ele solta uma gargalhada e balança a cabeça negativamente. Seu rosto fica um pouco vermelho, esfrega a nuca com a mão e diz um pouco sem jeito:
- “Karina”.
Ela fica vermelha também. Respira fundo e limpa uma lágrima que escapulira do seu olho. Ela aproxima seu rosto do dele e os dois se beijam.
- Pensei que você fosse mudo.
Ele faz um sinal de “mais ou menos” com a mão.
- Eu ouvi sobre o que aconteceu contigo.
Charles desvia o olhar, mas Karina faz com que ele a encare de frente:
- Olha aqui pra mim. Tem alguma coisa que você quer dizer ou fazer? Algo que quer soltar há muito tempo?
Ela o abraça, ele fecha os olhos e finalmente as lágrimas caem. Soluços. Karina o aperta com mais força. Os dois se beijam novamente.
- Que maravilha! Visitas.
Charles aponta o próprio quarto e desaparece do campo de visão de Karina e do pai. Karina lança um sorriso para Mário e comenta brincando:
- Bonito, artista e caladão. Um sonho. Um sonho!
Com o violino na mão, Charles reaparece e aponta a porta, avistando que já estava de saída.
- Temos que fazer uma coisa importante, Seu Mário. Até mais.
Os dois colocam dois buquês de rosas brancas no túmulo de Clara. Charles pega o violino e faz alguns ajustes na afinação. Antes de tocar qualquer coisa, no entanto, ele pergunta para Karina:
- Tudo bem para você?
- Claro. Eu adorei a idéia. E a música tá linda. Toca.
Ele fecha os olhos e murmura baixinho:
- Fiz duas músicas com os nomes das mulheres que vivem no meu coração. A primeira é “Karina”, em homenagem a essa garota do meu lado. A segunda é para você, “Clara”.
Ele executa a melodia com máxima maestria. Quando termina, um vento forte começa a soprar. Karina pensa ouvir alguém batendo palmas. Olha de um lado para o outro e não vê ninguém. Ela ri de si mesma e bacana a cabeça:
- Bobagem.

Saturday, January 31, 2009

Pontos inclinados

E quando olhar atravessado, estarei perto de você, suspirando ( talvez ) deitado e ainda sem compreender, o soluço, cala mudo- bate na porta e ouço leve o suspirro, castigo de outrora, e ainda sem entender busco resposta.

Mais adiante, volto, e ausente volto novamente na solidão que você me findou.

Wednesday, January 28, 2009

Sabedoria, um exercício


E quando o Sol brilhar
E o ar puro você respirar
Lembre-se dessa singela alegria
Quando a dor te encurralar

Mais vale a lembrança serena
Tornando qualquer tribulação amena
Que o presente tempo vulnerável
A intempestivos tédios descontentes



Monday, January 19, 2009

Sunday, January 18, 2009

Ano-novo Psiquiátrico




Dia cinza
Com rumores coloridos
Zoneando a fronteira
Noite-dia

Lá fora,
Festas, aquarelas
Modelando esperanças...

Aqui dentro,
Muita chuva de olhos
Tremores de bocas
Feridas de solidão

Por fora
O mundo de foguetes
O bom devir


Aqui dentro
A espera das voltas
Que dará o mundo
E flores resplandecentes

Crescerão na úmida terra
Trabalhada no coração
Se assim os deuses consentirem...


Tania Montandon

Friday, January 16, 2009

Bolha de sabão



Que dor dilacerante, um sair de si esquarrtejante, delirante, alucinante. 

O que há de errado comigo? Por que não consigo perceber e entender?

Deixo o mundo terreno para flanar pelas amplas galáxias esplêndidas.

Escuto pequenos ruídos como se meu primo tivesse falando com o corpo que deixei ao vento.

Ignoro, volto a atenção ao brilho daquela estrela pequenina, isolada e diferente de todas as outras.

Quase imperceptível, a luz é fraca e o tamanho irredutível.

Observo-a, curiosa, esperando, talvez, uma resposta...

Sunday, January 11, 2009

Terror

Por Gustavo Samuel

Kadija percorre as ruas de Jerusalém sem nenhuma pressa. Não tem para onde ir, ninguém a espera em lugar algum. Ela ajeita o cabelo diversas vezes. Deixá-lo solto a incomodava um pouco. Não estava acostumada a perambular por aí sem seu véu, mas era esperta o suficiente para não revelar sua procedência árabe para as pessoas daquela cidade. Desde que chegara a Jerusalém, nunca deixou de lembrar das palavras que seu pai sempre repetia há vários anos: “Não suporto judeu e sei que eles também não me suportariam. Ai de um se cair na mão do outro”. Ela não entedia por que ele dizia isso, mas cada dia que passava, tinha mais certeza que o pai estava certo.
Um caça corta os céus e se dirige rapidamente para a região de Gaza. Ela observa a aeronave desaparecer nos céus com lágrimas nos olhos. Vira uma daquelas no dia em que sua casa fora destruída por um bombardeio.
Ela estava na casa do primo quando tudo aconteceu. Foi um dia incrivelmente bom, Abdul era o primo que mais gostava, o que contava histórias fantásticas de piratas, ladrões e princesas.
Kadija não entendia o que estava acontecendo, só tinha dez anos. Sua casa estava completamente destruída. A dos vizinhos também. Tudo o que fazia era chorar, pedindo o pai e a mãe.
- Eles vão pagar por isso, Kadija. Eles vão pagar.
Abdul ficava repetindo essas palavras sem parar. Dois dias depois, os dois foram até um acampamento de soldados israelenses. Abdul deixou Kadija escondida e murmurou em seu ouvido.
- Quando escutar um estrondo, corre para qualquer lugar.
- Aonde você vai?
- Fazer uma coisa por você. É por isso que você está aqui. Eu vou fazer isso por você. Israel mandou uma bomba para matar seu pai e sua mãe, agora eles tem que pagar.
Kadija não entendeu o que o primo disse, nem naquela hora nem agora, pois nunca mais o vira. Quando escutou uma explosão, ela correu como o primo mandou. Correu por muito tempo. Quando estava bem longe, viu um caminhão com as letras N U pintadas e se escondeu nele.
Quando o motorista a descobriu e a expulsou do esconderijo, ela já estava em Jerusalém. Sozinha, ela passou a andar de uma lado para o outro, tentando se virar para sobreviver em uma terra estranha.
O barulho das TVs na loja de eletrodomésticos chamou sua atenção para o presente. Ela sabia muito pouco da língua daquele povo, mas conseguia entender alguma coisa que diziam.
O noticiário dizia que o exército israelense vencera mais uma batalha contra o terror...
- Terror?
... Um líder terrorista do Hammas acabava de ser morto, segundo o jornal. Dizia ainda que os famigerados terroristas usaram bairros civis como escudo e que causaram a morte de muitos palestinos.
- Escudo? Civis?
Um menino, no colo do pai que assistia a notícia também, puxou a gola da camisa dele e perguntou:
- O que é terrorista?
- É alguém que pega uma bomba para matar gente boa.
- Ah.
- E Israel manda aviões para nos proteger.
- Terrorista é alguém que mata gente boa com uma bomba.
O pai da criança passa a mão na cabeça de Kadija e sorri para a garota:
- É isso mesmo.
Ele entrega uma moeda para ela e vai embora. Kadija fica repetindo a frase por um bom tempo. Alguns até a observam com estranheza.
- Terrorista mata gente boa com uma bomba. Israel manda aviões com bombas para matar o papai e a mamãe. Então, Israel é terrorista.
Um jovem escuta a última frase damenina e lhe acerta um tapa que a joga no chão. A queda faz a testa da menina sangrar.
- Projeto de terrorista.
Kadija não presta a atenção nos insultos do jovem. Não entendia nada. Sabia que tudo aquilo era ruim. Os judeus não a suportavam, por que ela era palestina. Estava sozinha. Falava a verdade e levava um tapa. Desistiu de se levantar, ficou estirada na rua. Lembrou de Abdul. Se ele estivesse ali, iria pedir que ele contasse uma história. E mesmo se fosse alguma muito assustadora, ela pensou, iria achar linda, pois nada era mais aterrorizante que viver naquele mundo de terror.

http://recantodasletras.uol.com.br/contos/1378132

Tuesday, January 6, 2009

Uma pitada de noz – moscada




Dói no fundo do centro mais sensível da alma

O mal dispersa rapidamente

Atingindo todos os órgãos internos

Até chegar, ardendo, aos membros

E superfícies do templo carnal.

Aperta, queima, arde, arrasta o ar e o sangue

Não há o que o estanque

É o exato inferno em sensações

O sentimento? Não sei do que se trata

Ou como se trata, ou se retrata.

Sei que dói na pulsação,

Em cada inspiração, em cada expiração.

Dói no ver, no ouvir, no tocar...

Se falar, desfaleço – eis o limite.

Com esforço, escrevo,

Tentando aliviar, ou relatar, talvez comunicar

O indecifrável, inefável,

Inarrável...



Friday, January 2, 2009

Catarse



Da potência que renuncio agora

Da querência que paralisa minh’alma

Da “viruslência” que me tortura a espora

Da dolência no peito que me nega calma


É que derramo estas palavras nervosas

É que reclamo este organismo neurastênico

É que clamo por ajudas vigorosas

É que me denominaria esquizofrênico


Entrego-me de “corpo, alma e coração”

Entrego, de todo, meus órgãos à doação

Só não entrego o teor de minh’emoção


Entrego-me de culpa, carne e sem perdão

Entrego, de todo, meu espírito à purgação

Só não entrego o desvalor de minh’ação