Thursday, March 19, 2009

O Avião/ O Vermelho/ O Horizonte

Dia radiante. Agora o sol se põe, avermelhado, no cerrado. Um disco rubro, pegando fogo, e queimando os buritis, os ipês – tão floridos no inverno seco! – e a grama.

Ah, quanta palha pelo chão! Mas isso há de passar, simplesmente porque o tempo passa e os ciclos se sucedem.
O grande astro desaparece no horizonte.
Sempre ouvi falar que depois do horizonte reside a esperança. Mas acho que no horizonte do cerrado está aquilo que persegui por anos: o Futuro.
Viver o presente. Esse é o lema de hoje: a telinha diz “Hoje!”, a telona diz: “Hoje!”, as letrinhas em papel de embrulhar carne dizem “Hoje!”, os grandes cartazes que induzem os incautos ao uso (desmedido? não, claro que não, no Hoje tudo é relativo) do tão rico meio de troca dizem: “Hoje!”. Aliás, nunca o Hoje foi tão metalingüístico.
Porque no nosso hoje se vive o Hoje. O Futuro, aquele tão épico e esperado, não se busca mais, não se procura mais, coitado. Essa é a verdade.
O Futuro é discriminado.
E cá venho eu, em busca desse ser abstrato flagelado por preconceitos.
Venho eu espreitar entre o dançar sibilante das curvas brancas e sensuais, na dureza desconcertante e fulgurante do concreto armado, nas duas alvas metades da laranja, no grande meteoro pousado na água (rara!) emoldurado pelos arcos da vitória, uma espécie de salvação para o corpo e para o espírito. Uma salvação que não salve somente a minha alma, mas que faça decolar o avião. O avião que vai rumo ao horizonte da grande terra da madeira vermelha.
Olha aí, ele de novo, o horizonte.
O Hoje me atrai. Defeito? Não, sou produto dele. Não vou ser hipócrita. Não mesmo. Mas o Futuro virá inexorável.
E quero que o meu Hoje prepare os Hojes do Futuro. É, então, é o barro vermelho em que piso todos os dias, as torres apontadas para o celeste que brotam dele a cada dia, o lago que represa as minhas velhas angústias e não permite que me invadam de novo. 209 motivos, 714 razões para eu encontrar aí o meu Norte (ou será o meu Sul? Ou talvez o meu Sudoeste? Non non, beaucoup trop nouveau-riche pour moi !)
Por isso o busco, incansavelmente, a esse Futuro. Por isso o busquei por toda a vida. Sim, encontrei-o aqui.
O avião vermelho é meu futuro. E o meteoro que nele caiu, foi o que nele me salvou. Nele encontrei meu horizonte.

Ele, mais uma vez.

1 comment:

Tania Montandon said...

Gostei, leve e divertido, um convite a uma viagem através das fronteiras dos limites de sentido, lógica, regra, valendo a metaleitura da inovação filtrando leitores que possuem asas próprias dos "encostados" nas alheias, aquelas asas com manual, guia e regulamentaões,rsrs

beijos