Saturday, January 31, 2009

Pontos inclinados

E quando olhar atravessado, estarei perto de você, suspirando ( talvez ) deitado e ainda sem compreender, o soluço, cala mudo- bate na porta e ouço leve o suspirro, castigo de outrora, e ainda sem entender busco resposta.

Mais adiante, volto, e ausente volto novamente na solidão que você me findou.

Wednesday, January 28, 2009

Sabedoria, um exercício


E quando o Sol brilhar
E o ar puro você respirar
Lembre-se dessa singela alegria
Quando a dor te encurralar

Mais vale a lembrança serena
Tornando qualquer tribulação amena
Que o presente tempo vulnerável
A intempestivos tédios descontentes



Monday, January 19, 2009

Sunday, January 18, 2009

Ano-novo Psiquiátrico




Dia cinza
Com rumores coloridos
Zoneando a fronteira
Noite-dia

Lá fora,
Festas, aquarelas
Modelando esperanças...

Aqui dentro,
Muita chuva de olhos
Tremores de bocas
Feridas de solidão

Por fora
O mundo de foguetes
O bom devir


Aqui dentro
A espera das voltas
Que dará o mundo
E flores resplandecentes

Crescerão na úmida terra
Trabalhada no coração
Se assim os deuses consentirem...


Tania Montandon

Friday, January 16, 2009

Bolha de sabão



Que dor dilacerante, um sair de si esquarrtejante, delirante, alucinante. 

O que há de errado comigo? Por que não consigo perceber e entender?

Deixo o mundo terreno para flanar pelas amplas galáxias esplêndidas.

Escuto pequenos ruídos como se meu primo tivesse falando com o corpo que deixei ao vento.

Ignoro, volto a atenção ao brilho daquela estrela pequenina, isolada e diferente de todas as outras.

Quase imperceptível, a luz é fraca e o tamanho irredutível.

Observo-a, curiosa, esperando, talvez, uma resposta...

Sunday, January 11, 2009

Terror

Por Gustavo Samuel

Kadija percorre as ruas de Jerusalém sem nenhuma pressa. Não tem para onde ir, ninguém a espera em lugar algum. Ela ajeita o cabelo diversas vezes. Deixá-lo solto a incomodava um pouco. Não estava acostumada a perambular por aí sem seu véu, mas era esperta o suficiente para não revelar sua procedência árabe para as pessoas daquela cidade. Desde que chegara a Jerusalém, nunca deixou de lembrar das palavras que seu pai sempre repetia há vários anos: “Não suporto judeu e sei que eles também não me suportariam. Ai de um se cair na mão do outro”. Ela não entedia por que ele dizia isso, mas cada dia que passava, tinha mais certeza que o pai estava certo.
Um caça corta os céus e se dirige rapidamente para a região de Gaza. Ela observa a aeronave desaparecer nos céus com lágrimas nos olhos. Vira uma daquelas no dia em que sua casa fora destruída por um bombardeio.
Ela estava na casa do primo quando tudo aconteceu. Foi um dia incrivelmente bom, Abdul era o primo que mais gostava, o que contava histórias fantásticas de piratas, ladrões e princesas.
Kadija não entendia o que estava acontecendo, só tinha dez anos. Sua casa estava completamente destruída. A dos vizinhos também. Tudo o que fazia era chorar, pedindo o pai e a mãe.
- Eles vão pagar por isso, Kadija. Eles vão pagar.
Abdul ficava repetindo essas palavras sem parar. Dois dias depois, os dois foram até um acampamento de soldados israelenses. Abdul deixou Kadija escondida e murmurou em seu ouvido.
- Quando escutar um estrondo, corre para qualquer lugar.
- Aonde você vai?
- Fazer uma coisa por você. É por isso que você está aqui. Eu vou fazer isso por você. Israel mandou uma bomba para matar seu pai e sua mãe, agora eles tem que pagar.
Kadija não entendeu o que o primo disse, nem naquela hora nem agora, pois nunca mais o vira. Quando escutou uma explosão, ela correu como o primo mandou. Correu por muito tempo. Quando estava bem longe, viu um caminhão com as letras N U pintadas e se escondeu nele.
Quando o motorista a descobriu e a expulsou do esconderijo, ela já estava em Jerusalém. Sozinha, ela passou a andar de uma lado para o outro, tentando se virar para sobreviver em uma terra estranha.
O barulho das TVs na loja de eletrodomésticos chamou sua atenção para o presente. Ela sabia muito pouco da língua daquele povo, mas conseguia entender alguma coisa que diziam.
O noticiário dizia que o exército israelense vencera mais uma batalha contra o terror...
- Terror?
... Um líder terrorista do Hammas acabava de ser morto, segundo o jornal. Dizia ainda que os famigerados terroristas usaram bairros civis como escudo e que causaram a morte de muitos palestinos.
- Escudo? Civis?
Um menino, no colo do pai que assistia a notícia também, puxou a gola da camisa dele e perguntou:
- O que é terrorista?
- É alguém que pega uma bomba para matar gente boa.
- Ah.
- E Israel manda aviões para nos proteger.
- Terrorista é alguém que mata gente boa com uma bomba.
O pai da criança passa a mão na cabeça de Kadija e sorri para a garota:
- É isso mesmo.
Ele entrega uma moeda para ela e vai embora. Kadija fica repetindo a frase por um bom tempo. Alguns até a observam com estranheza.
- Terrorista mata gente boa com uma bomba. Israel manda aviões com bombas para matar o papai e a mamãe. Então, Israel é terrorista.
Um jovem escuta a última frase damenina e lhe acerta um tapa que a joga no chão. A queda faz a testa da menina sangrar.
- Projeto de terrorista.
Kadija não presta a atenção nos insultos do jovem. Não entendia nada. Sabia que tudo aquilo era ruim. Os judeus não a suportavam, por que ela era palestina. Estava sozinha. Falava a verdade e levava um tapa. Desistiu de se levantar, ficou estirada na rua. Lembrou de Abdul. Se ele estivesse ali, iria pedir que ele contasse uma história. E mesmo se fosse alguma muito assustadora, ela pensou, iria achar linda, pois nada era mais aterrorizante que viver naquele mundo de terror.

http://recantodasletras.uol.com.br/contos/1378132

Tuesday, January 6, 2009

Uma pitada de noz – moscada




Dói no fundo do centro mais sensível da alma

O mal dispersa rapidamente

Atingindo todos os órgãos internos

Até chegar, ardendo, aos membros

E superfícies do templo carnal.

Aperta, queima, arde, arrasta o ar e o sangue

Não há o que o estanque

É o exato inferno em sensações

O sentimento? Não sei do que se trata

Ou como se trata, ou se retrata.

Sei que dói na pulsação,

Em cada inspiração, em cada expiração.

Dói no ver, no ouvir, no tocar...

Se falar, desfaleço – eis o limite.

Com esforço, escrevo,

Tentando aliviar, ou relatar, talvez comunicar

O indecifrável, inefável,

Inarrável...



Friday, January 2, 2009

Catarse



Da potência que renuncio agora

Da querência que paralisa minh’alma

Da “viruslência” que me tortura a espora

Da dolência no peito que me nega calma


É que derramo estas palavras nervosas

É que reclamo este organismo neurastênico

É que clamo por ajudas vigorosas

É que me denominaria esquizofrênico


Entrego-me de “corpo, alma e coração”

Entrego, de todo, meus órgãos à doação

Só não entrego o teor de minh’emoção


Entrego-me de culpa, carne e sem perdão

Entrego, de todo, meu espírito à purgação

Só não entrego o desvalor de minh’ação